Um brinde à garrafa: porque brindar antes de beber?
julho 16, 2022Brindar com a garrafa é agradecer o momento, viver o gole. Se você não faz isso, pode começar!
Antes mesmo do copo ir à boca, ele faz um som característico de qualquer boteco: o tilintar do brinde. Brindar, seja com qual bebida for, é uma cultura inseparável e completa o ambiente, muitas vezes barulhento, com o toque de intimismo e parceria que se pode ter com as pessoas que bebem com você. O “tim-tim” é quase dizer para quem está na sua frente que ambos estão em sintonia, dividindo o momento juntos e agregando às experiências mútuas.
De um tempo para cá, eu agreguei uma etapa a mais antes de beber a cerveja. Eu abro a garrafa, sirvo da melhor maneira possível, brindo com as pessoas que dividem o líquido comigo e brindo com a garrafa. Só então eu vou beber. Mas por quê brindar com a garrafa?
Além de fã de animes, sou fã de comida japonesa tradicional e me aproximo muito do pensamento budista. Tenho frequentado vários tipos de restaurantes especializados em Lámen, churrasco (nos moldes japoneses) e, claro, os de sushi. Até mesmo o sakê se tornou uma aventura secundária depois que descobri que ele pode ser consumido tanto gelado como quente (tipo um chá) e que a temperatura faz toda a diferença do mundo, assim como na cerveja. No meio de toda essa “orientalização”, um momento de curiosidade me levou à palavra Itadakimasu e decidi pesquisar mais sobre.
Desde crianças, os japoneses aprendem a agradecer a refeição antes de comer. De mãos juntas, como que rezando, dizem itadakimasu e só então podem separar os hashi. Itadaku, em japonês, significa “receber humildemente”, sentimento associado aos princípios budistas que reforçam o respeito com os seres vivos. Porém, diferente de um agradecimento apenas pelo prato que se tem na frente ou para quem o preparou, essa expressão representa um agradecimento de alma. Agradece-se aos animais e seres vivos que deram origem ao prato, aos agricultores que colheram e selecionaram as matérias primas, a quem transportou, quem preparou, quem pagou e quem serviu. Basicamente a todos os mínimos participantes do processo pelo qual a comida passou. É um sentimento de conexão e compreensão com o que você está prestes a ingerir.
É pensando nisso que eu brindo com a garrafa. Já que dizer itadakimasu para toda cerveja que eu abrir seria estranho, além de não ser uma cultura na qual eu fui inserido, eu agradeço às pessoas que estão comigo e logo depois agradeço às plantações de cevada, de lúpulo, a água e às leveduras que fermentaram a minha cerveja. Lembro de quem colheu, quem malteou, quem brassou, envasou, transportou e serviu. Um simples gesto, já bastante comum em botecos por aí, que ganhou profundidade e importância. Mais um ponto da experiência que beber cerveja pode trazer para a gente.